Material do site Conversa Afiada ( http://www.paulohenriqueamorim.com.br/
)
R$ 34 BI: O CUSTO DO ENGARRAFAMENTO DE SP
É IMPRESSIONANTE
O tempo que os paulistanos perdem no
congestionamento na cidade de São Paulo gera um custo de R$ 26,8 bilhões
por ano. Esse valor é o que 3,7 milhões de pessoas deixam de produzir por
ano porque ficam paradas nos congestionamentos de São Paulo.
O custo com gasolina, diesel, transporte
de produtos e cargas gerados pela lentidão dos carros por causa dos
congestionamentos em São Paulo chega a R$ 6,5 bilhões por ano. Os dados são
de uma pesquisa do vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas Marcos
Cintra (clique
aqui para ler o artigo na Folha de S. Paulo - ).
O assessor de Marcos Cintra, Luís Carlos
da Silva, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta quarta-feira,
dia 16, que o custo total do congestionamento para a cidade de São Paulo
chega a R$ 34 bilhões por ano.
“Mas é bom sempre fazer uma diferenciação.
Os R$ 27 bilhões é o que se deixa de produzir e os R$ 6 bilhões é o que
a gente está gastando a mais de combustível e está tendo prejuízo na saúde
da população”, disse Luís Carlos.
Segundo Luís Carlos obras que exigem
grandes gastos como os túneis Ayrton Senna, Jânio Quadros, Rebouças,
Faria Lima e a ponte do Real Parque (Ponte Octavio Frias de Oliveira) não
resolvem o problema.
“Você joga o congestionamento 500
metros pra frente. Então, o que está sendo sugerido? Você pega uma ponte
comum, como a Cidade Jardim, por exemplo, ela custa, aproximadamente, R$ 30
milhões. Uma ponte simples. Se você utilizasse esses R$ 3 bilhões, daria
para você produzir, construir aproximadamente 80 pontes igual àquela da
Faria Lima, atravessando. Hoje você tem 30 pontes na Marginal Pinheiros e
Tietê. Você construiria pelo menos mais uma 80 (pontes). Isso já
desafogaria muito o trânsito, nas marginais, nas vias...”, disse Luís
Carlos.
Luís Carlos disse que o professor Marcos
Cintra sugere a “revascularização” das vias de São Paulo para
melhorar o trânsito.
“Ele criou um conceito, uma
revascularização do trânsito e imaginou isso como acontece em Manhattan,
que é um sistema reticular. E aqui é muito comum, se você sobrevoar a
cidade, você vai ver que essas grandes vias estão entupidas e o entorno
delas estão entupidas. Só que um pouco mais adiante você vai ter vias
ociosas. Então, ele tem falando muito nessas aberturas, em vários pontos
da cidade isso é possível, aberturas dessas vias no sentido de criar espaços
alternativos”, disse Luís Carlos.
Leia a íntegra da entrevista com Luís
Carlos da Silva:
Paulo Henrique Amorim – O vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas e ex-deputado
Marcos Cintra acaba de publicar na Folha de S. Paulo um artigo em que
calcula o custo dos engarrafamentos na cidade de São Paulo. Se calcularmos,
segundo a visão do professor Marcos Cintra, apenas o tempo ocioso há um
gasto de cerca de R$ 26 bilhões, R$ 27 bilhões por ano. Há quatro anos
esse custo era de R$ 15 bilhões. Os gastos com gasolina, diesel, transporte
de produtos, aumento do custo do transporte de cargas, tudo isso tem um
custo, segundo os cálculos do professor Marcos Cintra, de R$ 6,5 bilhões
por ano. Há quatro anos esse custo era de R$ 5 bilhões. Nós estamos,
portanto, vendo um acréscimo significativo do ônus econômico dos
congestionamentos em São Paulo. Eu vou conversar agora com Luís Carlos da
Silva, ele é assessor do professor Marcos Cintra. Marcos Cintra está fora
do Brasil. A primeira coisa que eu gostaria de saber é como que o professor
Marcos Cintra chegou a esses números, qual foi a metodologia empregada?
Luís Carlos – Esse conceito, esse número de R$ 26 bilhões, R$ 27 bilhões,
que tem inclusive sido objeto de bastante matérias em vários veículos...
Paulo Henrique Amorim – Isso. Estamos sempre falando de bilhões / ano, não é?
Luís Carlos – Bilhões / ano. Esse é um conceito na economia chamado
“custo de oportunidade”. Ele é um conceito que poderia ser resumido num
tempo alternativo que as pessoas poderiam, nesse tempo parado, como
alternativa, elas poderiam estar produzindo. Então, o que ocorre? Dadas as
informações, a situação hoje na cidade de São Paulo de trânsito que
chega normalmente a 200 quilômetros de engarrafamento, de lentidão. Nós
pegamos nos períodos críticos que vai das 08h até umas 11h da manhã e no
período da tarde, que vai das 17h até umas 21h da noite. Esse total de
congestionamento que nós estamos considerando alcança um total de metros
congestionados de 970 quilômetros. Por que isso? Nós consideramos que, em
São Paulo, quando você tem um congestionamento, essa extensão está
concentrada em pistas de três vias, em média. Então, o que você tem? Você
tem locais como as marginais em que você tem cinco pistas de cada lado, mas
se nós formos considerar em média duas pistas em três vias, nós temos
uma extensão de 970 mil metros, aproximadamente. Isso daria um total de
congestionamento na casa dos 5,8 bilhões de metros. Então, se você
considerar o espaço entre esses veículos e o total de pessoas por veículo,
nós teríamos hoje aproximadamente 3,7 milhões pessoas paradas. Com base
no PIB da cidade de São Paulo, que equivale a 12% do PIB nacional, nós
chegamos ao total de R$ 7 mil por homem / ano parado. E essa operação
atingiria os R$ 26,8 bilhões.
Paulo Henrique Amorim – Ou seja, se as pessoas não estivessem paradas no trânsito,
nos engarrafamentos da cidade de São Paulo, poderiam produzir R$ 27 bilhões
a mais por ano?
Luís Carlos – Isso. Esse é o “custo de oportunidade” para a cidade.
Paulo Henrique Amorim – E com relação à questão dos custos adicionais com
gasolina, diesel, transporte de produtos, aumento do transporte de cargas,
que vocês calcularam no custo anual de R$ 6,5 bi?
Luís Carlos – Nós partimos de algumas... infelizmente o Brasil, há uma carência
de estudos, há uma carência de dados estatísticos no Brasil, ao passo que
em outros países eles produzem toda a espécie de informações, toda espécie
de dados estatísticos. Isso é muito comum nos Estados Unidos e na Europa.
Agora, nós partimos de alguns dados de funções econométricas, que foram
produzidas num trabalho que foi realizado pelo Ipea em parceria com a ANTT.
Com base nessas funções, nós estimamos quanto cada automóvel, andando a
uma velocidade ideal, comparando essa velocidade ideal com o que
efetivamente acontece hoje na cidade de São Paulo, e a velocidade hoje está
em torno de 17 km/h, a velocidade média no trânsito, nós chegamos a um
determinado quantidade de combustível que essa comparação exige a mais
para cada veículo. Isso veículo de passeio. Nós fizemos a mesma coisa no
caso do transporte coletivo ônibus. Então a gente obtém a quantidade
gasta de gasolina e a quantidade gasta de diesel por veículo, litros por
quilômetro. E nós consideramos isso o valor hoje de cada um desses combustíveis
em função da frota atual. Então, esse volume, ele atinge há quatro anos
atrás, o valor hoje atual de 3,9 bilhões de gasolina por carro e de
diesel, por ônibus, 207 milhões de diesel por ônibus. A poluição foi
obtida através de funções para calcular a emissão de alguns poluentes:
monóxido de carbono, hidrocarbonetos, partículas, que isso é muito
presente nos ônibus. Nós atingimos, neste ano, por carro, isso nós temos
também dados internacionais que mostram o valor por quilo de cada um desses
poluentes. Cada um desses poluentes vai trazer conseqüências para a saúde
das pessoas, problemas respiratórios e assim por diante. E foi estimado,
então, qual é o custo para a saúde da população. E nós chegamos à
poluição por carro hoje de R$ 388 milhões e, por ônibus, de R$ 18 milhões.
Então, hoje, o total de gasolina, de combustível, dada a atual frota, nós
atingimos uma soma de R$ 4,5 bilhões que, somados à velocidade baixa
causada no impacto do transporte de carga, nós temos mais R$ 1,9 bilhão,
quase R$ 2 bilhões.
Paulo Henrique Amorim – Então chegamos a R$ 6 bilhões nesses itens.
Luís Carlos – R$ 6,5 bilhões nesses itens. E esses mesmos itens há 4 anos
eram de R$ 5,3 bilhões.
Paulo Henrique Amorim – Então essas duas parcelas desse estudo indicam que o custo do
engarrafamento para a cidade de São Paulo é de aproximadamente R$ 34 bilhões.
Luís Carlos – Isso. Mas aí é bom sempre fazer uma diferenciação. Os R$
27 bilhões é o que se deixa de produzir e os 6 bilhões é o que a gente
está gastando a mais de combustível e está tendo prejuízo na saúde da
população.
Paulo Henrique Amorim – O professor Marcos Cintra encaminhou esse trabalho, essa
pesquisa, ao Governo do Estado, a alguma autoridade, para que tomasse
conhecimento desses números estarrecedores ?
Luís Carlos – Estamos ainda, Paulo, terminando esse trabalho porque
inclusive quando nos deparamos com esses números foi uma coisa que
impressionou. São números que impressionam. Então, o que acontece? nós
divulgamos, numa primeira fase, esses números nesse artigo, é possível
que em breve tenha um novo artigo, mais completo, sobre esse tema. E nós
estamos preparando um artigo mais específico inclusive detalhando as funções
que foram utilizadas, os dados econométricos que foram utilizados, para uma
publicação mais completa. E aí, talvez, seja o caso de até encaminhar
isso para as autoridades, na Prefeitura, Governo do Estado, Governo Federal.
Paulo Henrique Amorim – Vocês não chegam a fazer nenhuma recomendação de política
urbana, política de transporte, chegam, não?
Luís Carlos – Existe uma coisa interessante nisso, todo mundo tem as
propostas para resolver essa situação e são sempre as mesmas propostas:
investir em transporte de alta capacidade como o Metrô e coisas do gênero,
como até o pedágio urbano. O que o professor Marcos Cintra tem falado
muito é que hoje, em São Paulo, precisa de um novo modelo viário, que era
válido lá atrás, na época do (prefeito) Faria Lima, quando abriram as
grandes artérias, as grandes vias arteriais da cidade. Mas hoje o que
acontece? A cidade foi tendo ações muito pontuais e hoje ainda prevalece
essa visão de grandes obras. Então, ele criou um conceito, uma
revascularização do trânsito e, na verdade, ele imaginou isso como
acontece em Manhattan, que é um sistema reticular. E aqui é muito comum,
se você sobrevoar a cidade, você vai ver que essas grandes vias estão
entupidas e o entorno delas estão entupidas. Só que um pouco mais adiante
você vai ter vias ociosas. Então, ele tem falando muito nessas aberturas,
em vários pontos da cidade isso é possível, aberturas dessas vias no
sentido de criar espaços alternativos. Vou dar um exemplo até prático.
Essas obras, grandes obras, como essa ponte aqui do Real Park...
Paulo Henrique Amorim – É o chamado “bonitinha, mas ordinária”.
Luís Carlos – Essa ponte mais esses túneis como Ayrton Senna, como Jânio
Quadros, como Faria Lima, isso aí custou quase R$ 3 bilhões.
Paulo Henrique Amorim – E não resolveu.
Luís Carlos – E não resolveu. Você joga o congestionamento 500 metros pra
frente. Então, o que está sendo sugerido? Você pega uma ponte comum, como
a Cidade Jardim, por exemplo, ela custa, aproximadamente, R$ 30 milhões.
Uma ponte simples. Se você utilizasse esses R$ 3 bilhões, daria para você
produzir, construir aproximadamente 80 pontes igual àquela da Faria Lima,
atravessando. Hoje você tem 30 pontes na Marginal Pinheiros e Tietê. Você
construiria pelo menos mais uma 80 (pontes). Isso já desafogaria muito o trânsito,
nas marginais, nas vias...
Paulo Henrique Amorim – O que dá voto é obra grande.
Luís Carlos – O que dá voto é obra grande, que é problema.
Paulo Henrique Amorim – Vamos voltar a falar isso mais a frente, Luís Carlos, sobre
essa teoria da revascularização do trânsito. É muito interessante.
Luís Carlos – É muito interessante essa informação, inclusive foi o próprio
Secretário Municipal de Transporte que deu esse mesmo exemplo de sobrevoar
São Paulo, que a gente vai observar isso: tem pistas livres e, aí, chega
em determinados pontos, para sair nessas artérias, elas ficam entupidas.
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